sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Blackfish (2013)

Sinopse: "Em 24 de fevereiro de 2010, a experiente treinadora Dawn Brancheau é atacada pela baleia orca com quem fazia um show no SeaWorld. O caso teve repercussão mundial e levantou questionamentos sobre as condições que os animais viviam em cativeiro e a segurança dos próprios treinadores ao dividirem a mesma piscina com eles durante os shows. O documentário investiga o histórico dos shows com baleias orca nos Estados Unidos, mostrando que acidentes deste tipo não são tão raros assim.”

Direção: Gabriela Cowperthwaite

Duração: 83min.

Eeeeeu não sou de ver muitos documentários, to be honest. Não tenho paciência pro formato padrão de documentário, gosto mais dos que são baseados em entrevistas e que contam uma história mais “fechada” – Idiot n Broadway conta a trajetória para fazer o musical American Idiot, Super Size Me conta a experiência bizarra de comer só McDonald’s para mostrar na pele os malefícios dos fast foods e das comidas nada saudáveis, e por aí vai -, então resolvi ver Blackfish... Porque apareceu numa pesquisa x na Netflix.

Vai ser meio estranho fazer esse post porque a ideia de criticar um documentário me parece estranha, principalmente com a falta de prática e conhecimento, so you’re in for a ride.

Eu sabia maaais ou menos o que motivou o documentário: ele é uma fortíssima crítica ao SeaWorld, sua história e forma de tratar as baleias orcas. E foi feito especificamente após o ataque da única orca macho (ou, ao menos, é o que deu a entender) do SeaWorld na época, Tilikum, à treinadora Dawn, em plena apresentação, na frente dos espectadores. Apesar do documentário ir contando a história principalmente através dos “acidentes” (?) – a grande maioria fatal – ocorridos no parque (ou ligados a ele), é em torno desse episódio que as coisas giram.

O documentário começa apresentando os ex-treinadores que contaram as histórias de backstage, como foram parar lá, suas motivações e como foi a preparação para nadar com as orcas. Todos aparecem sozinhos comentando tudo, mas tem algumas sequências deles juntos revendo vídeos antigos – é onde Dawn aparece pela primeira vez, e é apresentada como uma das melhores treinadoras que o SeaWorld já teve. Acho que o mais interessante dessa introdução é que dá pra ver como eles gostam das baleias, o carinho que guardam por elas, passa bem o encanto que é a ideia de trabalhar com as orcas e te prepara para o “ladeira abaixo” que as histórias são. Depois de assistir tudo, esse começo é BEM triste.

É quando um dos entrevistados fala que o que aconteceu com a treinadora não foi acaso, que é preciso voltar mais de 20 anos para entender tudo, que o documentário volta 39 anos no tempo e mostra como era a captura de baleias para os parques, com testemunhos de um pesquisador e um mergulhador, e essa é provavelmente a parte mais triste do documentário, a que realmente me fez chorar. É absolutamente imoral a maneira como caçavam – com bombas, helicópteros, barcos, perseguindo as adultas com filhotes, separando filhotes de suas famílias. O próprio mergulhador, que participou da caça, fala que já viu e fez muitas coisas difíceis de acreditar, mas essa foi a pior coisa que ele já fez.

Passamos, então, para a história do Tilikum, que foi capturado ainda filhote e levado para o Sealand, parque canadense agora fechado, mas especializado em orcas também. E é tão absurdamente triste e revoltante o que contam sobre ele – uma baleia macho, não treinada, colocada para treinar com uma baleia fêmea (orcas são matriarcais) já treinada, onde ambos eram punidos quando ele errava, isolado numa piscina de aço pela maior parte do tempo, preso com fêmeas que o mordiam e arranhavam, passando a vida toda isolado em cativeiro. Nem o ex-diretor do parque acha justo o que foi feito com as baleias.

E daí em diante vão contando algumas histórias dos treinadores e algumas intervenções de pesquisadores e uma neurologistas, que explicam como as baleias são na natureza - extremamente inteligentes, organizados em grupos que usam dialetos diferentes, apegados à "família" -, como o cativeiro altera o comportamento delas, entre outras coisas – e algumas histórias são bem... Heartbreaking. Principalmente ver os então treinadores falando sobre tudo o que aprenderam desde que saíram do parque, de suas relações com as baleias e tudo que estava errado lá. É triste vê-los falando que ficaram porque cuidavam das baleias, um deles até fala que ficou porque tinha pena do Tilikum, queria melhorar a vida dele na medida do possível.

Quando finalmente chegamos ao ataque de Tilikum à treinadora Dawn, é triste e revoltante. Triste porque você já acompanhou tanto a vida dele quanto a opinião que os outros tinham dela – sempre checando para ver se todos estavam bem, tentando melhorar a própria apresentação, sempre um porto-seguro para os outros treinadores -, revoltante porque você já viu o perigo que ela corria, a opinião de treinadores, e o parque culpa a treinadora, fala em “acidente”, quando o único culpado é o próprio parque.

Sendo uma crítica ao SeaWorld, você absolutamente espera ouvir histórias negativas, mas eu sinceramente não esperava ouvir tanta história de terror vinda de lá. No final é avisado que a equipe do documentário tentou contato com o parque, mas nunca obteve resposta, então não tem ninguém pra defender o lado deles. Só que, ao ouvir o que ex-treinadores e funcionários têm a falar, me pergunto se existe defesa. Sinceramente acho que não.

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